Cristina Rodrigues

25 de ago de 2023

92º Aniversário do Notícias da Beira

Entrevista ao Administrador José da Silva Gonçalves

Ainda no âmbito das comemorações dos 92 anos do Notícias da Beira, conversámos com o seu Administrador, José da Silva Gonçalves. Em tempos difíceis e de incerteza, quando o jornal foi doado à paróquia, foi o pilar que manteve viva a sua essência e o seu propósito. Nesta entrevista são partilhados os desafios enfrentados para garantir a continuidade de algo a preservar, enquanto legado de uma comunidade.

“Indiscutivelmente, o grande impulsionador do projeto foi o Sr. Padre Lobinho.

Este projeto para ele, como em todos os outros em que esteve envolvido, deveria ser a comunidade a organizar-se e a assumir o projeto como seu”

“... fomos dos primeiros jornais regionais a utilizar os meios informáticos...”

“Toda a imprensa regional nacional vive momentos difíceis..”

Sabemos que teve um envolvimento ativo na continuidade do NB. Pode contar-nos um pouco a história deste processo?

Foi justamente no ano em que o Jornal foi doado à Paróquia – 1972 – que eu fui colocado em Mangualde após conclusão do curso. Pouco conhecia de Mangualde e da dinâmica da Paróquia. Havia já alguma relação com o Sr. Padre Lobinho e foi ele, com a dinâmica e entusiasmo que o caracterizavam, que me apareceu em casa dizendo que precisavam de mim para colocar em atividade o jornal “Notícias da Beira”. Conduziu-me a uma das salas do andar arrendado onde viviam os Srs. Padres onde me mostrou uns caixotes de umas quantas fichas que seriam dos antigos assinantes que existiam à data em que o jornal deixou de ser publicado. A tarefa seria reorganizar todo o arquivo e efetuar todos os procedimentos necessários para que o jornal pudesse novamente vir a ser publicado. Foram muitas horas de trabalho, muitos serões prolongados, várias diligências a efetuar.

Desde então, e durante vários anos, assumi todas as tarefas burocráticas e toda a organização administrativa e financeira, incluindo a gestão de assinantes e publicidade, ficando o Sr. Pe. Lobinho todos os trabalhos inerentes à redação. Com o início do projeto do Complexo e com a vinda do Sr. Padre Felício, este passou a ter as funções de chefe de redação. Claro que ainda não havia informática e era necessário levar à tipografia (em Viseu) todos os textos em papel para se proceder à impressão.

Entretanto, começaram a surgir os computadores e as impressoras a laser que possibilitariam a feitura do jornal nas nossas instalações, sendo apenas necessário reprodução na tipografia. Com um investimento significativo e após uma candidatura a uns subsídios, fomos dos primeiros jornais regionais a utilizar os meios informáticos. Só passados alguns anos se contratou um funcionário para ajudar nestas tarefas.

Como acolheu a Paróquia este órgão de comunicação social?

Toda a Paróquia estava a iniciar uma reorganização pastoral e a pensar que seria necessário também construir estruturas que pudessem responder a essa nova dinâmica pastoral. Obviamente que o jornal seria um excelente meio de comunicação ao serviço desta dinâmica, não apenas para a comunidade a viver em Mangualde, mas também para a necessária ligação com toda a significativa comunidade emigrante.

Recuando a 1972 e, depois, para os anos decorridos, quais foram as pessoas e os acontecimentos-chave?

Indiscutivelmente, o grande impulsionador do projeto foi o Sr. Padre Lobinho. Este projeto para ele, como em todos os outros em que esteve envolvido, deveria ser a comunidade a organizar-se e a assumir o projeto como seu. Daí que logo de início quis que o diretor fosse um leigo identificado com a dinâmica da paróquia. O primeiro diretor, que se manteve em funções enquanto a sua saúde o permitiu, foi o saudoso Dr. Samuel Machado. Durante os anos em que esteve em Mangualde foi também determinante a ação do Sr. Padre Felício como chefe de redação, especialmente no período em que o jornal passou a semanário.

Que dificuldades foram sentidas e como foram superadas?

De início tivemos algumas dificuldades financeiras, que de resto se têm mantido. No mais foi fundamental uma grande equipa de colaboradores e correspondentes que cobriam todo o concelho. Anualmente havia um encontro com todos para traçar e partilhar objetivos e estabelecer laços.

Na sua opinião, qual a importância desta publicação ao serviço da região?

A importância do jornal está bem expressa no editorial que a nossa diretora explicitou magistralmente no último editorial

Quais os maiores desafios que a imprensa regional enfrenta nos dias de hoje?

Toda a imprensa regional nacional vive momentos difíceis, em que o principal desafio é o da sobrevivência económica, numa época em que as novas tecnologias dominam toda a informação.